A ocitocina: o hormônio do amor ou simples mito? 💕

Publicado por Adrien,
Fonte: CNRS INSB
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A ocitocina é frequentemente apelidada de "hormônio do amor" e regularmente ocupa as manchetes da imprensa. Mas por trás dessa imagem idílica, a realidade científica é mais complexa. O que a pesquisa realmente nos diz sobre essa molécula? Podemos realmente reduzir o amor a uma simples questão de química?



Um apelido enganador?


A associação da ocitocina ao amor remonta à sua descoberta no século XXo. A ocitocina é um neuropeptídeo, uma pequena proteína que age como mensageiro químico no cérebro e em muitos órgãos periféricos. Ela é responsável pelas contrações uterinas que desencadeiam o parto, assim como pela contração das glândulas mamárias durante a amamentação, favorecendo o vínculo mãe-filho. O papel da ocitocina nessa primeira relação de amor filial foi rapidamente superinterpretado para se tornar o hormônio do casal e das relações amorosas.

A biologia comparada nos alerta: menos de 5% dos mamíferos formam casais monogâmicos, no entanto todos possuem ocitocina. Nos arganazes, esses pequenos roedores frequentemente usados como modelos de estudo, a monogamia ou a poligamia dependem mais da distribuição dos receptores de ocitocina no cérebro do que da simples presença dessa molécula.

Então, se a ocitocina não é o hormônio do casal, qual é seu verdadeiro papel?

O hormônio do vínculo social antes de tudo


Mais do que o amor romântico, a pesquisa atual tende a mostrar que a ocitocina é principalmente o hormônio do vínculo social. Uma distinção essencial.

O vínculo mãe-filho, amplamente estudado, ilustra perfeitamente o papel social da ocitocina. Os contatos pele a pele estimulam sua liberação tanto na mãe quanto no filho, desencadeando uma cascata de efeitos benéficos: redução do estresse e da ansiedade, atenuação da dor e fortalecimento do bem-estar mútuo.

"Vamos muito além de um papel de amor, eros, da ocitocina, mas mais filial, estamos na versão do amor como cuidado com o outro." indica Pierre-Marie Lledo, Diretor de pesquisa do CNRS, UMR3571 - Genes, sinapses e cognição (CNRS/Institut Pasteur)

Estudos realizados no CNRS exploraram esse papel da ocitocina na motivação social. Alexandre Charlet e seus colaboradores mostraram que, no roedor, uma interação tátil entre dois indivíduos ativa neurônios específicos e favorece a liberação de ocitocina. Esse ciclo virtuoso mantém o desejo de interação social. Por outro lado, sua ausência pode levar a um isolamento progressivo. Uma linha de pesquisa particularmente interessante em geriatria, onde o isolamento social é um fator importante de depressão e ansiedade.

Esperanças terapêuticas... e limites


A ocitocina tem potencial terapêutico? É o que várias equipes de pesquisa estão explorando.

No início dos anos 2010, em Lyon, os trabalhos de Angela Sirigu mostraram que a administração de um spray nasal de ocitocina poderia melhorar as interações sociais em crianças com síndrome de Asperger.

No entanto, a aplicação clínica enfrenta grandes obstáculos. A ocitocina é uma pequena molécula frágil: sua meia-vida é extremamente curta (5 a 10 minutos) e ela não atravessa a barreira hematoencefálica. Sua administração por spray nasal ou por injeção sanguínea levanta questões: como explicar os efeitos observados se a molécula não pode atingir diretamente o cérebro? Esse é todo o mistério da ocitocina.

Para contornar essas limitações, cientistas estão desenvolvendo atualmente agonistas do receptor de ocitocina, moléculas capazes de imitar seus efeitos enquanto são mais estáveis no organismo. Uma esperança para futuras aplicações médicas.

A ocitocina e o amor à primeira vista: mito ou realidade?


Voltemos ao nosso ponto de partida: o amor à primeira vista pode ser explicado pela ocitocina?

Estudos com arganazes mostram que a formação do casal envolve várias moléculas: dopamina, serotonina, vasopressina e, claro, ocitocina. Mas esses hormônios atuam em diferentes regiões do cérebro e em momentos distintos do processo de apego.

Assim, a ocitocina não pode ser responsável, sozinha, pelo amor à primeira vista.

Se o amor fosse tão simples quanto uma injeção de ocitocina, bastaria um spray nasal para se apaixonar loucamente pela primeira pessoa que cruzasse na rua... o que obviamente não é o caso!

Alexandre Charlet, Diretor de pesquisa do CNRS, UPR3212 - Instituto de neurociências celulares e integrativas (CNRS)

O amor à primeira vista se baseia em uma mistura complexa de percepção sensorial, cognição, emoções e contexto social e cultural. Um encontro inesperado, uma estética que nos fala, uma voz que nos perturba... Tantos elementos que não podem ser reduzidos a uma única molécula, mas induzem as reações químicas necessárias para o surgimento desse sentimento forte.

Uma molécula chave, mas não mágica


Longe de ser um simples "hormônio do amor", a ocitocina é uma molécula essencial para a sobrevivência da espécie. Ela incentiva a reprodução, o cuidado parental, as interações sociais e até o gerenciamento do estresse e da dor. Uma molécula preciosa, mas cuja ação é muito mais sutil do que se poderia imaginar.

Reduzir a ocitocina a uma questão de amor seria um erro. O apego, as emoções e as relações humanas são complexos demais para serem explicados por uma única molécula. Mas, ao entender melhor seu papel, novas abordagens terapêuticas podem ser exploradas para melhor compreender a importância dos vínculos sociais em nosso bem-estar.

Então, a ocitocina, hormônio do amor? Não exatamente. Mas uma chave preciosa que está lá para nos facilitar a vida e nos unir uns aos outros.
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